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Bater ou não bater – Eis a questão
Esta é uma pergunta que me é muitas vezes colocada: “Uma palmada de vez em quando não faz mal, pois não?” a que eu costumo responder que não, se considerarmos que quando errarmos no nosso trabalho ou quando tivermos um comportamento desadequado com a nossa família e amigos seja legítimo que nos castiguem fisicamente. Agora, se acharmos que não admitiríamos este tipo de punição, porque colocamos a hipótese de tratarmos desta forma os nossos filhos?
Está provado que bater, além de ser fisicamente perigoso e emocionalmente prejudicial, é uma estratégia disciplinar ineficaz, pois só resolve o problema temporariamente, e que traz consigo diversas desvantagens como:
1.º As crianças aprendem a também reagir agressivamente, quando se sentem frustradas ou com raiva.
2.º Muitas vezes, os pais quando recuperam a calma e reveem a situação, experienciam sentimentos de culpa por terem lidado com o mau comportamento da criança de forma agressiva, adotando, assim, comportamentos compensatórios. Isto é, tentam compensar a criança com presentes, privilégios ou evitando o recurso à disciplina no futuro.
3.º O perigo de ocorrer um descontrolo dos pais quando estão a bater nos filhos, podendo causar ferimentos graves.
Uma outra questão relacionada com a punição física é que a mesma tende a fazer as crianças acreditar que a questão fica resolvida, deixando-as sem sentimentos de remorso ou culpa pelo seu comportamento e sem lhes ensinar que comportamento deveriam ter adotado.
Termino este tema deixando algumas questões para os pais refletirem:
Bater não será um ato de covardia?
Se você bate no/a seu/sua filho/a em criança como forma de o/a controlar, como pensa fazer quando ele/ela for adolescente?
Você gosta de ser agredido/a?
Não faça à sua criança aquilo que não gostaria que lhe fizessem a si
Brevemente apresentaremos alternativas ao bater, que além de serem mais eficientes e duradoras, promovem a qualidade e o respeito na relação Pais-Filhos.
“Se não comes ao almoço o que tens no prato, comes ao lanche.”
“Não arrumaste o teu quarto! Não podes ver televisão.”
“Não tiveste cuidado e estragaste a bicicleta, então não vais jogar futebol!”
“Partiste a janela do vizinho, então ficas sem computador.”
Soa-lhe familiar? Estas são frases típicas que anunciam o castigo, como forma de punição por um comportamento desadequado ou pela ausência do comportamento desejado.
E agora pergunto:” Os castigos costumam resultar com os seus filhos?” E muitos dos Pais responderão que sim. Que geralmente resultam. E dirão corretamente, pois os castigos costumam ser eficazes, mas no momento. O que é que eu quero dizer com isto? Que o castigo funciona como forma de resolução imediata da situação, contudo, os castigos não resultam a longo prazo.
O castigo não tem uma ligação lógica com o comportamento/situação, logo não ensina e não proporciona à criança o desenvolvimento da responsabilidade pelos seus atos. Se o comportamento do seu/sua filho/a muda devido aos castigos, é provável que seja por medo dos mesmos, e não porque tenha aprendido alguma coisa (quer dizer, talvez tenha aprendido a mentir sobre o seu comportamento para se proteger). Além de que, na maioria das vezes, o castigo gera sentimentos de raiva, injustiça e agressividade na criança, que não percebe porque é que não pode ver o seu programa favorito na televisão ou porque não pode usar o computador, pois as punições nada têm a ver com o “erro” da criança.
Por outro lado, temos as consequências, que fazem a ligação entre o comportamento e um resultado lógico e coerente. Todos os nossos comportamentos e ações têm consequências. Umas boas e desejáveis, outras menos boas e que nos custam mais a aceitar. Mas, como adultos, sabemos que fazem parte da vida. Ora, com as crianças não tem que ser diferente, muito pelo contrário.
Uma consequência natural é aquilo que resultaria da acão de uma criança, caso não houvesse intervenção de um adulto.
Por exemplo: se a criança se deixar dormir e perder a carrinha para a escola, a consequência natural seria ter de ir a pé. Se não quisesse vestir o casaco, iria apanhar frio. Se não comesse o almoço, iria ter fome, pois só comeria novamente na hora habitual do lanche. Se partir um brinquedo num ataque fúria, pois irá ficar sem ele.
Claro que há situações em que os pais não podem deixar as consequências naturais acontecerem, quando representam perigo para a criança ou para os outros e quando a consequência natural demorará muito tempo a acontecer (perde o efeito).
Já uma consequência lógica, por seu lado, é planeada pelos pais como consequência negativa ligada a um comportamento incorreto.
Exemplo: se a criança parte uma janela do vizinho a jogar à bola, uma consequência lógica seria ela ter de fazer uma série de tarefas para juntar o dinheiro necessário para pagar os estragos. Não arrumou a bicicleta na garagem, ela estragou-se, então sairá da sua semanada o dinheiro para o arranjo. Viu mais televisão do que lhe é permitido, no dia seguinte esse tempo ser-lhe-á descontado. Não arrumou o quarto, ficará então assim, pois os Pais não o farão por si. Não colocou a roupa suja no cesto, então ela não será lavada (Ai, se tiver lá aquela t-shirt preferida).
Recorrendo às consequências os Pais estão a agir no sentido de não proteger os filhos das consequências negativas dos seus atos, ajudando-os a aprender com os seus erros, sem gritos, zangas, dor física (castigo físico) e humilhações. Assim, é importante, para que resulte, que apresente antecipadamente aos seus filhos as diversas consequências dos seus comportamentos, para que eles possam pensar sobre elas e escolher, percebendo que são responsáveis pelas decisões que tomarem e pelas consequências das mesmas.
Porque a auto estima é determinante para o sucesso, e uma boa autoestima começa a construir-se desde os primeiros anos do indivíduo, a Peças de Família partilhará, ao longo dos próximos dias, algumas dicas ou orientações que permitirão aos Pais aumentar a autoestima dos seus filhos, potenciando, assim, as probabilidades de eles se tornarem crianças e pessoas mais felizes.